Durante muito tempo, os grandes protagonistas do futebol foram os jogadores. Pelé, Maradona, Ronaldo, Messi e Cristiano Ronaldo sempre brilharam nas capas de jornais e nos olhos da torcida. No entanto, nas últimas duas décadas, um novo personagem passou a dividir os holofotes: o treinador. Aquele que antes ficava discretamente à beira do campo, hoje é centro de conferências de imprensa, alvo de contratações milionárias e personagem principal nas séries de streaming.
A ascensão dos técnicos ao status de estrela não aconteceu por acaso. O futebol se tornou mais exigente, mais estudado e muito mais competitivo. Para vencer, não basta ter bons jogadores — é preciso ter um plano de jogo, uma identidade e uma gestão eficaz do elenco. Os treinadores modernos são estrategistas, psicólogos, analistas e gestores. Eles se tornaram peças-chave em qualquer projeto esportivo de sucesso.
Com a globalização e a profissionalização dos clubes, o papel do técnico foi ganhando relevância não apenas nos bastidores, mas também no campo midiático. Clubes passaram a investir em técnicos como se investem em estrelas do elenco. A imagem do técnico carismático, com estilo próprio e ideias marcantes, tornou-se atrativo para a torcida e para o mercado.
Não por acaso, treinadores como Pep Guardiola, Jürgen Klopp e Carlo Ancelotti são hoje reconhecidos internacionalmente por suas ideias, resultados e até pela forma como se comunicam com os atletas e com a imprensa. Seus estilos de jogo são estudados, imitados e analisados à exaustão. A cultura do “DNA tático” está em alta, e a origem desse fenômeno passa diretamente pelos bancos de reserva.
Ao longo da história recente, alguns treinadores foram responsáveis por transformar clubes, seleções e até a forma como se pensa o futebol. Um dos primeiros grandes nomes dessa revolução foi Arrigo Sacchi, no final dos anos 80. Com seu Milan, Sacchi introduziu uma filosofia baseada em marcação por zona, linha defensiva alta e pressão constante — ideias revolucionárias para a época.
Na década de 90, Alex Ferguson construiu uma dinastia no Manchester United. Mais do que tática, ele era mestre na gestão de grupo. Seu maior mérito foi manter o clube competitivo durante mais de duas décadas, lidando com diferentes gerações, egos e contextos.
Já no século XXI, ninguém simboliza melhor o treinador moderno do que Pep Guardiola. Desde seus tempos de Barcelona, ele redefiniu o conceito de posse de bola e posicionamento. Seu estilo de jogo, conhecido como “jogo de posição”, inspirou uma geração inteira de técnicos e consolidou a ideia de que dominar o adversário passa por dominar o espaço e a bola.
Outro nome fundamental é Jürgen Klopp. Com seu gegenpressing — a pressão imediata após a perda da bola —, ele trouxe intensidade e agressividade ao jogo, aliando espetáculo a eficiência. Seu carisma, postura ética e conexão com os jogadores fizeram dele um exemplo de liderança moderna no futebol.
Esses técnicos não apenas conquistaram títulos, mas influenciaram o futebol como um todo. Eles provaram que a prancheta pode ser tão decisiva quanto o talento dentro de campo. Além disso, mostraram que estilo, ideias e consistência são fatores determinantes para o sucesso esportivo a longo prazo.
Na era digital, a figura do treinador ganhou ainda mais complexidade. Hoje, o técnico precisa lidar com uma avalanche de dados, estatísticas e relatórios. O uso de softwares de análise de desempenho, GPS, inteligência artificial e big data se tornou rotina nos grandes clubes. Isso exige que o treinador seja também um analista e um profissional aberto à tecnologia.
Mas a modernidade trouxe outro desafio: o emocional. Jogadores são pressionados 24 horas por dia por torcedores, redes sociais e imprensa. Cabe ao treinador criar um ambiente saudável, blindar seus atletas e saber lidar com cada perfil individual. A inteligência emocional, antes desprezada no meio esportivo, se tornou uma das competências mais valorizadas nos centros de treinamento.
Técnicos como Carlo Ancelotti, por exemplo, são respeitados não só por sua tática, mas por sua capacidade de gerir vestiários complexos. Em um elenco cheio de estrelas, egos e diferentes culturas, o treinador precisa ser mediador e referência.
Outro impacto importante da era digital é a visibilidade. Hoje, qualquer torcedor pode assistir à coletiva de imprensa do técnico, acompanhar sua linguagem corporal na beira do campo e opinar nas redes sociais. Isso transformou a comunicação do treinador em algo estratégico. Um técnico que se comunica mal pode perder apoio, mesmo com bons resultados.
Dessa forma, o treinador virou um personagem multifuncional. Ele precisa montar um time competitivo, manter o ambiente equilibrado, se comunicar com clareza e representar a filosofia do clube. Seu papel ultrapassou os limites da prancheta — ele é o elo entre todas as partes envolvidas no futebol.
No Brasil, a cultura do técnico ainda passa por um processo de amadurecimento. Durante décadas, a troca constante de treinadores e a falta de projetos de longo prazo prejudicaram a consolidação de estilos de jogo. Porém, nos últimos anos, esse cenário tem mudado.
Técnicos estrangeiros como Jorge Jesus e Abel Ferreira chegaram ao Brasil e mostraram que planejamento e metodologia fazem diferença. Seus times jogaram de forma organizada, eficiente e com resultados expressivos. Isso fez com que os clubes e a imprensa repensassem o papel do treinador no futebol nacional.
Ao mesmo tempo, novos nomes brasileiros têm se destacado. Fernando Diniz, por exemplo, propõe um jogo ofensivo, com posse e construção desde a defesa. Dorival Júnior é respeitado pela sua capacidade de adaptação e liderança. Renato Gaúcho, mesmo mais polêmico, mostra consistência nos trabalhos que assume.
A formação de técnicos também tem melhorado. A CBF passou a exigir licenças profissionais e oferece cursos que tratam de tática, preparação física, análise de desempenho e psicologia. Esse investimento na capacitação é essencial para elevar o nível do futebol brasileiro.
Outro aspecto interessante é a presença maior de ex-jogadores na beira do campo. Profissionais como Rogério Ceni, Tite e Zé Ricardo mostram que a experiência dentro de campo pode se transformar em conhecimento estratégico, desde que venha acompanhada de estudo.
O grande desafio do técnico brasileiro ainda é conquistar espaço em grandes clubes europeus. Enquanto isso não acontece, o Brasil segue sendo um laboratório riquíssimo de ideias, estilos e oportunidades. E a presença de técnicos protagonistas é um sinal claro de evolução.
O futebol moderno é muito mais do que 11 jogadores correndo atrás da bola. É estratégia, ciência, gestão e comunicação. Nesse novo cenário, os treinadores deixaram de ser apenas coadjuvantes e passaram a ser protagonistas. Eles moldam o estilo de jogo, comandam projetos, inspiram torcedores e decidem partidas. São líderes dentro e fora de campo.
Com a exigência crescente do futebol, o técnico virou um elo essencial entre jogadores, dirigentes, torcida e imprensa. Sua importância é tamanha que, em muitos casos, ele representa a própria identidade do clube.
Na era da informação, da alta performance e do futebol como entretenimento global, o treinador é tão estrela quanto o camisa 10. E no blog MarinSeven, esse reconhecimento também é merecido.